A ORIGEM DO BRANCO NA MEDICINA
Lybio Martire Junior
Em nossos dias é difícil desvincular o branco da medicina. Ao observarmos alguém vestido assim, imediatamente o relacionamos com alguma área médica ou paramédica, entretanto não foi sempre dessa forma, nem há tanto tempo.
Desde a antiguidade, essa côr vem simbolizando a pureza. As vestais romanas, sacerdotizas que guardavam os templos, deviam manter-se virgens até os trinta anos de idade, sob pena de perderem junto com seu hímem a própria vida e a vestimenta branca, distinguia sua posição virtuosa.
Por tradição, hoje naturalmente apenas folclórica, as noivas vestem o branco como símbolo de sua preservação virginal.
Os médicos durante toda a evolução histórica da medicina, ocuparam posição de destaque na maioria das sociedades e nas mais diversas culturas, ladeando reis e nobres, a proximidade com o misterioso limiar entre a vida e morte lhes imbuia carisma e consequentemente o respeito da sociedade. Desta maneira, suas vestes acompanhavam a de seus pares do ápice da comunidade, exceção feita ao período medieval europeu, quando a medicina foi relegada a um plano secundário, exercida principalmente pelos monges nos conventos. Todavia, nesse mesmo período, em outras civilizações como a árabe e a chinesa, continuavam a gozar do mesmo prestígio e da mesma posição.
Após a Idade Média, nos séculos XV, XVI e XVII, o vestuário tornou-se sofisticado e os homens de destaque abusavam da exuberância das vestes usando inclusive perucas cacheadas e “rabos de cavalo” na cabeleira ( este último novamente em moda hoje em dia ). No exercício de sua profissão, os discípulos de Hipócrates assim também se trajavam. No final do século XVIII após a revolução francesa, com o advento da gravata, as roupas tornam-se mais simples , entretanto sóbrias e vamos encontrar o médico com fraque ou casaca realizando os procedimentos de seu oficio, inclusive a cirurgia, posto que, os conhecimentos de assepsia eram quase inexistentes.
Com os estudos de Pasteur sobre os microrganismos e o advento da anti-sepsia na segunda metade do século passado, começa a haver uma preocupação maior com a higiene, regra geral, à época, bastante precária.
No final do século XIX os hospitais eram verdadeiros centros de disseminação de doenças, com ratos e insetos perambulando pelas enfermarias, conforme nos mostram relatórios e gravuras criticas da época.
Nesse palco caótico, assepticamente falando, uma mulher começa a bater-se pelos cuidados com a higiene e baseando-se nos princípios já expostos, deflaga campanha acirrada através dos meios de comunicação da época, na Inglaterra, para que se zelasse melhor pela higiene, principalmente nos hospitais, enfrentando os hábitos inadequados mas arraigados da sociedade de seu tempo. Além disto ela organiza e sistematiza o corpo de pessoal de auxílio médico, conferindo categoria profissional à enfermagem, até então exercida em sua maioria, pelas irmãs de caridade.
Ela propôs que para uma melhor observação da higiene nos meios médicos, todo profissional de saúde passasse a vestir o branco assim como os ambientes e aparelhos em contacto com os doentes, também fossem dessa côr.
A campanha floresceu e paulatinamente o branco uniformiza todos os campos da medicina, sedimentando-se.
Em nosso século, já nas décadas iniciais, a cor branca incorpora-se à classe médica facilitando a assepsia mas, guardando um significado ainda mais amplo: a coragem, o idealismo e a visão higienista de Florence Nightingale ( 1820 - 1910 ) a patronesse da enfermagem.
(Extraído do livro "História da Medicina - Curiosidades & Fatos", Lybio Junior, 2004 - Editora Astúrias)